terça-feira, 24 de agosto de 2010

Matar a Culpa

Culpei este mundo e o outro pela minha doença…
Culpei os meus pais porque me fizeram cara pálida… quando eu devia ser índia.
Culpei o medico de família por não me ter assustado… mas fugi do médico que me assustou…
Toda a gente teria culpa do meu suicídio…menos eu… Queria eu acreditar nisto.
Devem estar a pensar porque motivo eu digo que ter um cancro é suicídio, pois bem, esta foi a conclusão mais sensata a que cheguei, poderá ser uma perspectiva errada, mas, foi a ela que me agarrei e foi ela que me consolou.
Pensei… pensei… pensei ... porquê cancro? Porque eu? Se eu não escolhi isto para mim porque sou eu a culpada?
O cancro é uma doença auto-destrutiva. O nosso corpo começa a auto-destruir-se, como tal isso é suicídio. Mas que motivo teria eu para, inconscientemente, ter vontade de me matar?
Peguei num papel e fiz uma retrospectiva da minha vida até então. Aconselho toda a gente a fazer isto de vez em quando.
Cheguei á conclusão que em Janeiro de 2009 eu era outra pessoa, eu estava a ir contra tudo aquilo em que acredito, eu estava a ser tudo aquilo que mais detesto.
Não sou perfeita mas sempre fui de paz, e eu estava em guerra.
Adoro rir, mas só me apetecia chorar.
Adoro estar com amigos, mas não saia do lado dos inimigos.
Eu que sempre fui de amor estava a alimentar-me de ódio.
Para quem me conhece, isto parece impossível, mas é a mais pura das verdades.
Para quem está a ler isto parece que a minha vida desmoronou. Pois é bem verdade, apesar de eu não me ter apercebido. E só agora olhando para traz consigo ver isso.
Eu tinha a família perfeita, os melhores amigos do mundo, o amor da minha vida... mas um emprego para o qual eu me arrastava todos os dias.
Sim é verdade! Basta uma pequenina coisa mal na nossa vida e tudo cai, tal como um castelo de cartas.
Eu amava os miúdos e graúdos que tinha na minha sala, eles sim faziam-me sorrir e era por eles que eu acordava todas as manhãs.
Nos primeiros meses aquele era sem dúvida o meu trabalho favorito, eu adorava o que fazia e era feliz.
Um dia sem darmos conta… lentamente… o ambiente mudou… as pessoas começaram a ser ambiciosas e maldosas. Começaram a haver discussões, bate bocas, todos começamos a andar de punhos fechados, de costas voltadas. Sem sabermos bem porque.
Eu comecei a odiar colegas, mas a ter medo de me afastar deles. Ao lado do inimigo estamos mais seguros.
O ódio dentro de mim trouxe uma enorme tristeza e com o tempo nem os meus meninos conseguiam fazer parar a dor que tinha dentro de mim.
De manhã sentia que não aguentava nem mais um dia… e no final do dia ia para casa a chorar porque já não conseguia dar o melhor de mim.
A podridão daquele ambiente começou por ocupar espaço na minha vida e eu, olhando agora para traz, percebo que já não era a mesma pessoa.
A menina Zen dos fumos e pós mágicos, como uma colega me chamava, acabou por se transformar numa pessoa revoltada com ódios, magoas e com vontade de vingança.
Para além de me transformar numa pessoa má e mesquinha, fizeram-me acreditar que era má profissional, que não tinha valor. O pior de tudo é que houve momentos em que eu acreditei mesmo que isto era verdade. Estava tão fraca que nem coragem tinha para virar as costas, para ir embora.
Um dia tudo mudou na minha vida, graças a um sábio de barbas brancas… Não posso revelar o nome mas ele existe.
Mostrou-me que eu era boa profissional, acreditou em mim, valorizou-me. Finalmente… ganhei um pouco de força… não para lutar, mas para fugir… e fugi… fugi daquele sítio, para sempre.
Acreditava em mim, mas ainda alimentei aquele ódio alguns meses, até saber que estava doente e até entender que fui eu que me deixei adoecer.
Eu deixei a minha alma apodrecer e como consequência o meu corpo começou a auto destruição… Cheguei a tempo e aprendi a lição… mas poderia ter sido tarde de mais.
Deixei para traz um grupo de crianças e graúdos que eu ainda hoje amo e de quem tenho tantas saudades que as vezes o meu peito aperta.
No fundo a culpa não foi de nenhum colega meu… foi só minha, eu é que me deixei corroer pela maldade dos outros… por isso… agora estou na paz… perdoei-me…
Mas quero também dizer que houve colegas que depois de eu fugir, mostraram o seu verdadeiro eu e surpreenderam-me, a esses eu agradeço a amizade… E aproveito para dizer que sim! Gosto de vocês.
A quem me fez sofrer eu desejo uma boa estadia nesta vida e deixo um conselho… “ Os outros são o espelho da nossa alma…tudo o que dizemos deles é simplesmente o que não aceitamos em nós”.
Conhece-te, ama-te e perdoa-te. Como qualquer ser humano mereces ser feliz.



Por isso meus amigos e leitores, fujam daquela família que não vos entende, fujam daquele relacionamento que morreu, fujam daquele emprego que vos mata…
Nós suportamos tudo a solidão, a fome, mas não suportamos a morte…

Podemos até acreditar que teremos mais vidas depois desta…será?
Esta é garantida.. é tua… agarra-a!!!!

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