terça-feira, 9 de março de 2010

Na casa de banho do IPO

A interminável noite chegou ao fim. O pequeno-almoço em breve estaria a caminho.
Eu já não conseguia aguentar mais a fome, penso que cheguei a ter alucinações ou então a sr.ª do lado levou, mesmo, a noite toda a ressonar.
Chegou o meu pequeno-almoço favorito. Café com leite e pão com manteiga. O néctar dos Deuses.
Estava na hora de levantar da cama, pela primeira vez, depois da operação. Um banho, bem bom, esperava por mim.
Mas naquele banho encontrei um campo de batalha, constituído por mulheres com super poderes.
Na casa de banho, apesar de os chuveiros serem individuais, antes de entrar e quando saiamos, dos chuveiros, ficávamos nuas, perto umas das outras. O que vi não vou esquecer, nunca mais.
Sempre que puder vou gritar aos quatros ventos, o que é o cancro e vou contar cada pormenor de tudo o que senti, vi e vivi. Porque devem vocês pensar! Porque nos humanos só cometemos erros, fazemos o que está errado e com orgulho dizemos, mas eu não quero viver para sempre ou melhor não quero morrer saudável. Sabem que mais, eu quero viver para sempre e quero morrer saudável, com trezentos anos de idade.
Só diz essas barbaridades quem nunca sentiu a morte bem de perto. Ou quem nunca viu, numa casa de banho feminina, onde a beleza deveria ser exposta sem pudor e sem vergonha, mulheres e miúdas, muitas na casa dos 20/30, mutiladas e envergonhadas, a tentar esconder o corpo. Com um olhar triste, como quem começou a guerra e já quer voltar para casa. O peso que carregam nos ombros é enorme, a responsabilidade de se manterem vivas, a felicidade de estarem vivas e o desgosto de não se sentirem sensuais e desejadas é impossivel descrever.
A verdade é que muitas delas, estavam curadas, sem peito, garganta, baço, fígado, apenas com algumas cicatrizes na pele, mas curadas “fisicamente” curadas.
Mas bem lá no fundo sabem o que eu vi? Na casa de banho do IPO eu vi mulheres bem bonitas, com cicatrizes sensuais, que fora dali, poderiam ser símbolo de uma revolta humanista ou femininista, uma vida de cowboys, de armas e facas de rixas e aventuras.
Para quem ficou sem peito, aproveitem a oportunidade e coloquem um peito bem bonito, de dar inveja ao mundo, para quem prefere ficar sem ele, em vez de se esconderem do mundo, choquem-no, mostrem aos mundo que nos somos imortais e estamos a sobreviver á maior guerra do século, o cancro.
Eu apesar de não puder apanhar sol, nunca mais, sempre que puder vou expor as minhas cicatrizes e sempre que me perguntarem porque as tenho, eu vou dizer que combati numa guerra dolorosa, onde as armas eram bisturis, vou mostra-las com orgulho, porque sempre que alguém as ver significa que estou viva e cada dia que passa eu ganho mais um dia.
Fora do IPO as nossas cicatrizes podem ser tudo aquilo que nos quisermos. E acreditem que podem ser bem sensuais e desejáveis.

6 comentários:

  1. Lindo =)
    Muita força! Vencer o cancro não é motivo de vergonha.. É orgulho! Devem de o mostrar sempre que poderem.
    És um exemplo de força!

    Beijinho grande para que mantenhas sempre essa força*

    ResponderEliminar
  2. Es uma guerreira sem duvida!!Parabens neste teu dia e um grande bjaooooo nina

    ResponderEliminar
  3. só podes mesmo pensar assim beleza.

    és uma super mulher.

    jinhos fofos

    ResponderEliminar
  4. então e mais?
    está tudo bem?*

    ResponderEliminar
  5. Soube agora.......´
    Sei que és uma lutadora!
    Espero que estejas bem!
    Força! Se eu poder ajudar seja no que for...
    faz-me sabe-lo.

    Beijo bem grande meu e da Margarida que está enorme!

    ResponderEliminar